terça-feira, janeiro 20, 2004

Entrei em contacto com Neptuno, o planeta, esta semana. Encontrei a fotografia de uma bola muito azul, como sabes. Como tu.
É um dos planetas alquímicos, o da união com o todo. Com a fotografia do planeta, encontrei uma frase - «A longo prazo, os homens apenas atigem aquilo a que aspiram» - de um americano do séc. XIX, Thoreau, fundador do movimento literário Transcendentalista.
Sei que gostavas mais de mim se soubesse dizer umas palavras sobre o assunto. Mas não te sei dizer mais que isto: Neptuno dissolve o ego através de uma transmutação mística que eleva ao Absoluto; é o planeta da matriz universal; mas também é o símbolo da fundição e da total união entre seres livres e independentes.

Bonito, não é?

Houve um dia importante. Deve ter havido, pelo menos para ti. Não sei qual foi. Escolheste-o tu.
Por causa desse dia, de vez em quando, sinto uma tontura.
Devias ter-me dito qualquer coisa, que era um dia diferente, para que eu, ao menos, me tivesse preparado. Tinha vestido traje de cerimónia. Tinha tirado uma fotografia. Tinha-te roubado um fio de cabelo. Tinha feito uma surpresa, e esse dia tinha sido mais importante ainda. Confia.
Já sei: Se me ouves - muitas vezes sinto que sim, que me ouves, porque eu penso tão alto em ti e é impossível que não te cheguem os meus pensamentos, principalmente de noite, principalmente em noites de lua redonda, de prata ou de ouro -, se me ouvires agora, posso assegura-te - foste tu quem ficou a perder por não me teres dito que era importante, o dia. Tinha feito uma... surpresa.
Penso que estamos com um problema de falta de comunicação. Dir-me-às que é pelo facto de vivermos em planos separados. Dir-te-ei que não sabes o que dizes;
que o problema reside nas palavras que faltam;
que, mesmo existindo em planos diferentes, falamos a mesma língua;
e, se não falarmos, podemos cantar as canções que os dois sabemos de cor.
Se, mesmo assim, a palavra não nos conseguir unir, basta-me a tua aparição. A ideia de ti. E um sinal qualquer de quão importante é o dia.
Uma lágrima, por exemplo.

quarta-feira, janeiro 14, 2004

Ouço as ondas. E quase te perco - da memória e da imaginação.
Dias frios. Visto-me de preto para roubar energia ao sol, e porque estou de luto. Faz-me falta o teu corpo. A macieza da tua pele, o teu cabelo dourado, as tuas mãos fortes. Faltam-me, sobretudo, os teus olhos. Se não puder descansar nos teus olhos, nada há de mim que resista.
Ouço as ondas, uma atrás da outra atrás da outra.